9 de fevereiro de 2019
Em respeito à comunidade, o Inhotim fechou suas portas depois do tragédia da barragem de Brumadinho. A grande maioria dos seus funcionários moram na região. Hoje, passadas duas semanas, abriu com um minuto de silêncio pelas vítimas. E com a presença de um público imenso, em um gesto solidário, humano, de compaixão. Aí, enfim, eu entendi um dos poemas mais enigmáticos e carregados de significado de Carlos Drummond de Andrade, escrito em 1945. Suspeito até que, em um ato de criação prospectivo, ele o tenha escrito para o Inhotim. Se não foi, deveria. Enfim, é, pelo menos pra mim. Leiam, por gentileza. E preparem-se para um alumbramento. A.
Áporo
Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.
Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?
Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:
em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.