1 de novembro de 2020
Quando uma roda de conversa, um debate, uma mesa ou qualquer evento tem a presença de Ailton Krenak ou Mia Couto o aprendizado e convite para reflexão são certeiros. Não foi diferente na noite do quinto dia de Fliaraxá. Eles conversaram sobre “O futuro das almas e do planeta” com a mediação de Afonso Borges.
De início, quando recebeu o convite para participar, Mia Couto estranhou o tema da mesa, mas passou a gostar, já que, de acordo com culturas originárias moçambicanas, não só os seres humanos têm alma, mas também os animais e a natureza como um todo. “Estamos no mesmo nível, não há uma hierarquia entre as criaturas”, destacou o escritor que também é biólogo. Atrelado ao tema, ele fez questão de inserir o conceito de natureza e a desmistificação que precisar ser feita. Segundo ele, são ideias profundamente arraigadas que tomamos como verdade, mas que é importante parar para pensar e repensar. “Há uma ideia romantizada de natureza, como uma mãe, imaculada, obra de Deus. Se revelando uma dimensão de conflito e desarmoniosa”, explica.
Ailton Krenak falou sobre uma natureza indissociável do corpo. “Os homens se põem no lugar central e concebem a ideia de natureza como uma coisa externa ao nosso corpo. Os outros seres não tem o nosso convencimento”, destacou.
A conversa também falou sobre o tema/conceito do IX Fliaraxá. Para além do português, Ailton Krenak relembrou que existem cerca de 300 línguas nativas que subsistem atualmente no território brasileiro. “Mais de 900 registros foram feitos de línguas nativas brasileiras até o século XIX”, compara Krenak mostrando a situação preocupante. Se as línguas estão morrendo, é porque o povo também está. Além disso, oficializar uma única língua faz com que as outras vivam nas margens.
Somado a isso, uma esperança que vem ganhando corpo nos últimos 20 anos. Ailton Krenak observa a formação de uma primeira geração de escritores indígenas com o propósito de valorizar as línguas nativas, bem como a literatura e cultura indígena plural.
Em resumo, os dois escritores e ambientalistas conversaram sobre o meio ambiente como um todo e a relação do nosso corpo com a terra em um bate-papo descontraído.
A seguir você confere a playlist com todas as mesas que foram realizadas no IX Fliaraxá.
O Fliaraxá foi criado em 2012 pelo empreendedor cultural e diretor-presidente da Associação Cultural Sempre um Papo, Afonso Borges. As cinco primeiras edições aconteceram no pátio da Fundação Calmon Barreto e, a partir de 2017, o festival passou a ocupar o Tauá Grande Hotel de Araxá, patrimônio histórico do Estado de Minas Gerais, edificação construída em 1942. Naquela edição, nasceu também o “Fliaraxá Gastronomia”. Cerca de 140 mil pessoas passaram pelo festival. Mais de 400 autores participaram da programação.
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Texto por Jaiane Souza/Culturadoria
O post “A esperança não pode nascer no lugar de espera”, diz Mia Couto em Bate-papo com Ailton Krenak apareceu primeiro em IX Festival Literário de Araxá.