20 de junho de 2024
Nesta noite de quinta-feira no 12º Fliaraxá, o curador e escritor Sérgio Abranches recebeu duas autoras: a baiana Calila das Mercês e a amazonense Myriam Scotti. Sérgio iniciou a conversa pedindo para que as convidadas falassem sobre o motivo que as reuniu na noite de hoje para essa conversa com o público do Fliaraxá: a literatura.
O sertão, o recôncavo da Bahia e seus terreiros é onde começa a literatura de Calila das Mercês: a casa das avós, onde as histórias eram faladas — histórias que, inclusive, não eram contadas para que ela, criança, entendesse. “A reunião em volta do fogão a lenha, uma literatura que surge a partir da conversa, das histórias contadas pelas minhas matriarcas”. Na sequência, Myriam Scotti destacou que, para ela, a literatura tem muito a ver com a paisagem. Sobretudo a paisagem amazônica. “A gente se forma por causa daquela floresta que nos envolve, daqueles rios que nos cercam”. Também para a amazonense, a forte presença feminina, das mulheres matriarcas da família, foi fundamental para que a sua literatura tivesse início.
O primeiro livro de Calila das Mercês, “Planta oração”, é uma reunião de contos que Sérgio Abranches destacou pela singularidade na maneira de contar. Na sequência, a escritora compartilhou as inspirações para a escrita da obra, que começou na observação da casa da avó que era rodeada por plantas. “Todas as minhas avós eram mulheres que tinham mãos que produziam muitas coisas, que alimentavam as pessoas. (…) Eu sou uma mulher da terra, sou uma mulher interiorana”.
Myriam Scotti comentou que seu movimento de escrita teve início no romance e que, agora, ela está adentrando também o terreno das narrativas curtas. Falando sobre os contos de Calila, Scotti comentou: “O que eu gosto da literatura é esse reconhecimento, apesar da paisagem ser diferente”. Sobre seu romance mais recente, “Terra úmida”, a convidada destacou, como Calila, o forte tom familiar da narrativa: um mergulho nas próprias origens judaicas e amazonenses que resultou na escrita do trabalho.
Numa conversa que seguiu discutindo o poder transformador da literatura, Sérgio Abranches declarou: “A literatura me salvou”. Na sequência, o escritor jogou a bola para as convidadas, que falaram sobre o papel de transformação da literatura também em suas vidas. Calila das Mercês comentou que a literatura lhe deu a possibilidade de acessar novos lugares: “A literatura, além de ser um direito, também nos possibilita viajar pelo mundo, nos permite sonhar. E saber que o diferente existe”. Uma criança muito tímida, Myriam Scotti disse nunca ter se encaixado nos espaços da infância. “A literatura foi minha companheira”. Assim, na escrita de diários, a autora descobriu a possibilidade da criação literária, concluindo com uma retomada da fala inicial de Abranches: “Eu posso dizer que a literatura também me salvou”.
Perto do final da conversa, Calila e Myriam comentaram sobre seus próximos passos literários. Mercês atualmente segue na escrita de novos contos — para Abranches, pelo poder de síntese de sua escrita, a autora baiana tem o dom de contista. Scotti também segue na escrita de contos — mas destacou que, caso alguma dessas novas histórias lhe puxe para uma narrativa maior, não descarta a possibilidade de novos romances.
A CBMM apresenta, há 12 anos, o Festival Literário Internacional de Araxá, um festival literário com atividades acessíveis, inclusivas, antirracistas, éticas, educativas e em equilíbrio com a diversidade, economia criativa, raça, gênero e pessoas com deficiência. Toda a programação é gratuita, garantindo a democratização do acesso. O Fliaraxá conta, também, com o patrocínio do Itaú, da Cemig e do Bem Brasil, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Participam, na qualidade de apoio cultural, a Prefeitura de Araxá, a Fundação Cultural Calmon Barreto, a TV Integração, a Embaixada Francesa no Brasil, o Institut Français e a Academia Araxaense de Letras. Todas as atividades do Festival são gratuitas, com a curadoria nacional de Afonso Borges, Tom Farias, Sérgio Abranches e curadoria local de Rafael Nolli, Luiz Humberto França e Carlos Vinícius Santos da Silva.
12.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 19 a 23 de junho de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Programação presencial na Fundação Cultural Calmon Barreto (Praça Artur Bernardes, 10 – Centro), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa
Entrada gratuita
Informações para a imprensa: imprensa@fliaraxa.com.br
Jozane Faleiro – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002
O post As raízes familiares e as histórias ancestrais dão o tom de mesa entre Calila das Mercês, Myriam Scotti e Sérgio Abranches apareceu primeiro em 12º. Fliaraxá.