12 de agosto de 2021
Por Andréa Pachá
Passados quinze dias da segunda dose da vacina AstraZeneca, já imunizada e pronta para as retomadas, enquanto desdobrava as roupas, e limpava os sapatos e bolsas para a volta à rotina presencial, a alegria com a possibilidade dos reencontros e abraços, atrasou. Ou será que desistiu de reaparecer?
Por que não consigo celebrar o retorno à vida, com o entusiasmo que a vida merece, e que eu imaginava natural, depois de quase um ano e meio de isolamento?
Não tive um ano sabático. Nem escolhi o isolamento para meditar, fazer bolos, pães, arrumar gavetas ou fotografias. Fui exilada compulsoriamente, e a promessa do ócio criativo não se transforma em realidade, a menos que o silêncio e o tempo sejam resultados de liberdade e escolhas.
Na iminência de retomar a vida de obrigações e compromissos, um balanço dos últimos meses tem me remetido a um mar de cobranças e culpas. Além da ansiedade com as dezenas de projetos suspensos, cuja urgência me assombra no horizonte, agora mais próximo.
Entendi que é hora de exercitar a generosidade e a compreensão para com minha impotência e meus limites. Não preciso me apressar para tentar dar um significado à tristeza. Não é uma obrigação ser utilitário nesse momento e querer, na marra, justificar de forma épica a dura experiência que vivemos.
Não fomos produtivos na quarentena. E daí? Teria sido possível aderir ao produtivismo, como se não estivéssemos acordando e dormindo com a morte à espreita, com as perdas sem despedidas, com medo de adoecer e de ver sofrer aqueles a quem amamos?
Nem nos piores momentos da peste foi possível usufruir do tempo com a densidade que o momento exigia. Lives, receitas, técnicas de meditação se espalharam como metas a serem cumpridas, mas, no máximo, foram tréguas de respiração, em meio ao tormento e ao desamparo.
Quem, como eu, teve o privilégio de se isolar, reduzindo o contágio para si e para a comunidade, terá um compromisso inescapável com o futuro: não deixar a falsa percepção dos “ganhos da pandemia” se sobrepor às perdas e às dores causadas pela omissão e pela irresponsabilidade daqueles que poderiam ter evitado tantas mortes.
Estamos vivos. E isso não é pouco. Vamos curar nossas escaras, deixar cicatrizar nossas feridas e, finalmente, viver o luto como ele deve ser vivido para que possamos seguir adiante. Não há nada de errado em ficar triste porque ainda vivemos um cotidiano de dor.
Retomemos a vida. Sem pressa. Sem urgências. Sem cobranças. Deixando a alegria penetrar sem que percebamos, nas entrelinhas possíveis.
Alegria é projeto coletivo, comunitário. Enquanto não for de muitos, não será de ninguém. O poeta tem sempre razão: “é impossível ser feliz sozinho”.