19 de novembro de 2024
Afonso Borges e Gonçalo M. Tavares em mesa de bate-papo no Festival Utopia (Foto: @creative_lemons/ Festival Utopia Divulgação)
O escritor português Gonçalo M. Tavares participou no último domingo, 17/11, do Festival Utopia, que está acontecendo na cidade de Braga, no norte de Portugal. O autor falou a respeito de sua vida e obra, durante uma mesa de conversa mediada pelo jornalista Afonso Borges, presidente e criador do Sempre Um Papo. Também foram abordados assuntos como a liberdade de expressão na ficção, o empobrecimento da linguagem e desafios da contemporaneidade.
Nascido em 1970, em Luanda, na Angola, Gonçalo estreou na literatura em 2001 com o “Livro da doença”. Atualmente, ele tem sua obra publicada em mais de 60 países, e recebeu importantes reconhecimentos como o Prêmio Literário José Saramago, o Prêmio Oceanos; e o Prix Laure-Bataillon, da França. Autor de livros de diferentes gêneros literários – como poemas, contos e ensaios -, Gonçalo abordou, durante o bate-papo, a escrita de ficção. “O grande prazer que eu tenho quando escrevo, por exemplo, um romance, ou uma coisa qualquer ficcional, é precisamente sair do meu mundo e inventar mundos onde eu não estive”, afirmou.
Apesar disso, o autor destaca que, atualmente, a ficção é, por vezes, ameaçada por discursos e críticas que ignoram a diferença entre elementos básicos como autor, narrador e protagonista. “Hoje já se chegou ao ponto de se criticar uma personagem racista em um romance de ficção”, disse Gonçalo, chamando atenção para o fato de que não se pode assumir que os pensamentos e opiniões das personagens de um livro refletem os do autor da obra em questão. Ainda nesse sentido, Gonçalo defendeu que os escritores de literatura devem ser livres para abordar temas difíceis e incômodos. “Pensando em termos éticos (…), eu não acredito que se escrevermos livros ‘bonzinhos’, as pessoas que os lerem vão ficar ‘boazinhas’, afirmou.
A mesa de bate-papo com Gonçalo Tavares foi fruto da parceria do projeto cultural Sempre Um Papo, criado em Belo Horizonte, em 1986, com o Festival Utopia. Esta é a segunda edição do festival, que apresenta uma programação formada por conversas, espetáculos, oficinas, sessões com escolas, entrevistas, exposições e passeios literários. O festival ocorre ao longo dos 10 dias, entre 15 e 24/11, em diferentes espaços da cidade de Braga, como o Espaço Vita e o Theatro Circo. O evento é promovido pela The Book Company e Penguin Random House Grupo Editorial, e tem como principal parceiro a Câmara Municipal de Braga.