16 de março de 2018
A morte de Marielle Franco abalou o país todo. Hoje, o Mondolivro presta suas honras trazendo algumas homenagens que foram feitas, junto com uma indicação de música, também, em homenagem à Marielle.
Ouçam a coluna de @AfonsoBorges na @RádioBandeNewsBeloHorizonte clicando AQUI
E aqui, as contribuições enviadas:
Calma
Se cala
Senão a arma dispara
Senão o pranto que fala
Cala que no Brasil Preto não tem vez
Vala
Bala
Xadrez
Cala que o seu destino foi selado no parto
Depois te tiraram o chão, o teto e o prato.
Fome, miséria e desilusão. Preto tem alma? Tem coração?
Chora uma lágrima, um sonho e para… não tem mais tempo, recomeça a batalha. Sobe morro na contramão da maré, luta, acorda cedo, tem fé. É forte, intensa, mulher. Marielle vive na poesia e em todos que se levantarem contra o facismo brasileiro.
Pedro Muriel
Acredito na força da cultura e da arte contra as desrazões da violência. São elas que fazem o Brasil ser assim, gigante como Marielle.
Mariana Várzea
Uma mulher descerá o morro O seu vestido é a tempestade Uma mulher descerá o morro E ainda que seu sangue caia Ferida incessante no asfalto do Estácio E ainda que anunciem a sua morte (E, sim, ainda que comemorada) Essa mulher ninguém poderá parar. – Micheliny Verunschk
uma mulher descerá o morro
como se descesse de uma estrela
uma mulher seus olhos iluminados
suas mãos pulsando vida e luta
sob seus pés a velha serpente
[a baba as armas a covardia de sempre].
uma mulher descerá o morro
as inúmeras escadarias do morro
os muros arames que separam o morro
e pisará o chão desse país sem nome
desse país que ainda não existe
desse país que interminavelmente não há
uma mulher descerá o morro
tempestade é o vestido que ela veste
uma mulher descerá o morro
e ainda que seu sangue caia
ferida incessante no asfalto do Estácio
e ainda que anunciem sua morte
[e sim, ainda que a comemorem]
esta mulher ninguém poderá parar.
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Micheliny Verunschk, 15 de março de 2018, a manhã seguinte à execução de Marielle Franco.
Não somos todos Marielle Franco! Não mesmo! Mas são Marielle as centenas de lideres comunitários nas cidades e no campo, as lideranças indígenas e coordenadores de movimentos sociais que tombaram ano após ano pelo país afora. Marielle é Chico Mendes, Dorothy Stang, José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo. É Marcondes Nambla, líder indígena e educador na reserva de José Boiteux. É Jefferson Marcelo, líder comunitário que denunciou a atuação da milícia em Madureira. É Paulo Sérgio Almeida Nascimento, uma das pessoas mais atuantes nas denúncias contra a refinaria Hydro Alunorte, envolvida no vazamento de rejeitos de bauxita na região e que foi morto há apenas três dias em Barcarena, no Pará. É a juíza Patrícia Acioli, fuzilada pelas mesmas mãos e motivos que mataram Marielle: as denúncias contra os abusos, maus tratos, a corrupção e o envolvimento da PM com as milícias cariocas. São tantos. E tantos anônimos. Só em 2017 a Comissão Pastoral da Terra contabilizou 65 pessoas assassinadas em conflitos no campo, o que faz do Brasil o país mais violento para as populações camponesas no mundo. É um massacre sistemático feito por quem tem certeza da impunidade.
E não podem nunca ser Marielle’s aqueles que bradam contra os direitos humanos desqualificando-os como “direitos dos manos” tratando aqueles que, como ela, ergueram e erguem suas vozes tantas vezes para denunciar suas violações como “defensores de vagabundos”.
É um dia triste. Mas todo dia é um dia triste em algum lugar nesse Brasil que mata 60.000 pessoas por ano. É quase certo que haverá manifestações, hashtags, avatares de luto. Tão certo quanto o fato que no fim a morte de Marielle será apenas mais uma a engrossar essa horrível estatística. Não há de se esperar do Estado nenhuma mudança significativa porque em última instância ela foi vítima desse mesmo Estado que mata tanto pela ação direta de seu aparato armado, a PM, quanto pela omissão que permite o surgimento das forças paralelas das milícias. E não é novidade que principalmente no Rio, PM e milícia convivem em perfeita simbiose. É tudo muito desanimador. Só Marielle não desanimou e talvez por isso morreu.
Lino Santos
Não foi a vereadora Marielle Franco atingida – foi tudo o que ela simbolizava. Mulher, negra, favelada. O que quiseram executar foram suas ideias e o que quiseram calar foram as pessoas que, como ela, lutam por um país mais justo. Mas não conseguirão. Somos muitos milhares de Marielles Francos espalhados pelo Brasil
Luiz Ruffato
Calabouço
Cala-boca
Quem mataram?
A quem mataram?
À queima roupa
Estamos nus
Estamos nós
Mais uma negra morta
Menos uma negra viva
Ativa
Calaram a sua boca
Calaram a minha boca
Porque mulher fala demais
Sacais
Porque só podia ser negra
Regra
Piadas boçais que alimentam contínuo este moto,
Estas mortes
Senhores de chibata
em sua pequenez que mata
Senzala que não quer acabar
Corrente que não quer se romper
Vossas próprias cordas ainda vos enforcarão,
Covardes.
Tá lá mais um corpo estendido na história.
Uma voz morreu,
Todas as vozes se levantarão.
Zezé Lisboa
Eu não poderia dizer nada que fosse mais relevante do que ele disse – e mais verdadeiro. De que não somos todos Marielle, de que não estamos no front dando a cara à tapa, que essas pessoas estão sendo abatidas como moscas e que é um dia triste, como todos tem sido. POREM, ele não fala da esperança. Seria um único traço que eu mudaria no texto dele. A esperança nasce com a luta que se revigora com essa execução.
Stella Florence
As mensagens da Marielle reverberaram o dia inteiro, na imprensa, nas redes, nos escritórios, mesas de restaurantes, parlamentos, esquinas mundo afora.
Eu mesma, que acompanho política nível médio, conhecia pouco o trabalho dela. Há 24 horas busco informações sobre esta mulher, a história, o trabalho as agendas. A cada info a tristeza aumenta.
Como podemos perder um ser tão especial numa execução atroz e covarde?
Que novas lideranças emerjam dessa tragédia.
Paula Martins
Favelada. Executada. Fuzilada. Fosse ninguém, ninguém ligava Te quis a luta, e a moça liderava. Morreu porque ela incomodava Marielle presente, presenteava E estará sempre continuada.
JOSÉ RONALDO
Estou buscando palavras, porque eu só sinto ódio, só sinto raiva e muito medo, realmente, eu não sei o que falar. Mais do que nunca eu estou me sentindo oprimida e fraca, eu tinha tantos planos esse ano… E agora eu só tenho lagrimas e pavor.
Marielle e Talíria me encorajaram a lutar, a ser mais forte, elas estiveram na minha casa, onde conversamos por horas, sobre meus medos, minhas dúvidas… Eu estava tão segura, tão esperançosa depois de conversar com elas, hoje eu só sinto medo, eu sempre senti na verdade, por ser negra, por morar no morro, por andar a noite na rua, por ser mulher, por cantar funk principalmente “Delação premiada”, mas alguma coisa me dava força e esperança lá no fundo, algo me dizia que eu tinha que fazer, que eu tinha que gritar e falar mesmo, que eu podia, mas hoje eu tenho certeza que nada te proteje independente de quem você seja, se você for negro e lutar pelos negros, vc sempre acaba EXECUTADO”. Irresponsabilidade: Ensaio de 15 anos com tema ESCRAVIDÃO gera revolta na internet
A funkeira MC Carol, moradora do Morro do Preventório, comunidade de Niterói, e conhecida por algumas letras de tom político, como “Delação Premiada” na qual denúncia a violência policial na favela,
A força da Marielle está estampada logo de cara! A força da Marielle é bela como a sua pele, a sua voz, os seus olhos e o seu sorriso! Traz o Franco sincero no próprio nome e na forma como encarava a vida. Sem medo, sem concessões, intensamente.
Tá na cara! Tá nos traços de mulher guerreira mostrando que a luta é árdua, mas, pode ser bela porque clama por um mundo melhor. Nunca para si própria, mas, para os desvalidos da desigualdade, do preconceito e da violência. O rosto de Marielle é a prova sincera de uma força que não se esvai. Ao contrário, é catalisadora e se transforma em amálgama de tantas outras vidas, que sabem, mais do que nunca, que é preciso lutar, lutar e lutar.
Descanse em paz, Marielle. Sua bela e alegre presença agora continuará a inspirar outras forças que, a seu exemplo, buscam fazer do nosso país um lugar mais digno de se viver.
Nossa homenagem, inspirada no belo retrato de Marielle, executado pelo artista plástico negro juizforano Vinicius Chagas.#MariellePresente
Marcelo Passos
Alice Salvo Sosnowski O tiro que Marielle levou na cabeça acertou em cheio nossos corações! #luto #luta