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Hugo Monteiro Ferreira, autor de “A geração do quarto”, fala sobre o massacre de Blumenau

5 de abril de 2023

Diante do ataque à creche em Blumenau (SC) ocorrido na manhã desta quarta-feira, 5 de abril, Afonso Borges entrevistou, no Podcast Mondolivro da Alvorada FM, o escritor, professor e terapeuta Hugo Monteiro Ferreira. Ele é autor do livro “A geração do quarto: quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar”, lançado em 2022 pela Editora Record, no qual aborda os problemas que mais acometem as novas gerações, como o adoecimento emocional, depressão, ansiedade, violência escolar e bullying.

“Geração do quarto” foi o termo que Hugo Ferreira criou para denominar jovens e crianças que passam cerca de 6h por dia dentro deste cômodo, com quase nenhuma comunicação com as pessoas que moram na mesma casa, muita dificuldade de dizer o que sentem e um grande potencial de violência contra si – como automutilação e ideação suicida – ou contra os outros.

Na entrevista ao Podcast Mondolivro, Hugo afirma que este fenômeno se relaciona diretamente aos recorrentes ataques a escolas e creches, como o acontecido hoje, em Blumenau, deixando quatro crianças mortas e quatro feridas. “Eu entendo que os ataques às escolas têm uma característica muito peculiar: as pessoas que atacaram, de modo geral, tiveram também uma experiência com a violência, e isso afetou sua saúde mental. Então, me parece que há uma relação direta entre quem ataca e o perfil dessas pessoas que eu estudei no fenômeno da geração do quarto”, diz.

“[A ‘geração do quarto’] é um fenômeno que demonstra uma imensa complexidade para sua análise, mas tem uma característica central: estes meninos e estas meninas estão com a saúde mental adoecida” (Hugo Monteiro Ferreira)

Na entrevista, o autor explica ainda como as várias estâncias sociais – como a imprensa, o poder público, as escolas e, principalmente, as famílias – devem agir diante deste fenômeno. “As famílias precisam ouvir seus filhos e suas filhas, precisam prestar muita atenção a neles e nelas, precisam ensiná-los as questões relacionadas a direitos humanos, porque a base de direitos humanos é a compreensão e o respeito à alteridade”, defende.

“A geração adoecida dos filhos demonstra também a geração adoecida dos pais” (Hugo Monteiro Ferreira)

De fato, Hugo acredita que as famílias têm um papel fundamental neste cenário. “Eu acho que a geração do quarto é efetivamente produzida dentro da família. A família, me parece, é o organismo social mais importante para a gente enfrentar as dificuldades enfrentadas pela geração do quarto”, afirmou o autor durante o Sempre Um Papo em que ele lançou “A geração do quarto”, no ano passado.

Com relação à imprensa, Hugo alerta que erros na forma de noticiar ataques a escolas e creches podem contribuir para a continuação deles. “Eu entendo que seja papel da imprensa informar a população sobre os ataques e problematizar, a partir de sua divulgação, a temática deles. Mas eu entendo também que é um erro da imprensa quando imagens dos ataques são mostradas, quando áudios referentes aos ataques são veiculados. Porque quando isso é feito, cria-se uma espécie de campo de comunicação que, em psicologia, é chamado de ‘contágio’. É muito provável que imagens e sons, quando veiculados de maneira intensa, possam provocar o ‘contágio’ e, assim, gerar uma repetição do fenômeno”.

Por isso, Hugo defende que a imprensa deve ouvir especialistas sobre temáticas como saúde mental, escolas, sociedade e até mesmo segurança pública. “É preciso olhar atentamente ao que a ciência diz nesse momento e evitar qualquer tipo de espetáculo sobre essa tragédia”, afirma.

A entrevista completa com Hugo Monteiro Ferreira para o Podcast Mondolivro vai ao ar às 18h, no site da Rádio Alvorada FM.