28 de julho de 2023
Em 5 de julho de 2023, Ivo Pitanguy, se vivo, faria 100 anos. A data passou desapercebida. Mas esta história poderia ter outro final. Ou, pelo menos, outro meio.
Ivo Pitanguy quase foi escritor profissional. Fez o curso primário no Grupo Escolar Affonso Pena, em Belo Horizonte, ao lado de Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino e Otto Lara Rezende. Nunca foi o primeiro da turma mas influenciado pelos colegas, dedicava grande parte de seu tempo aos livros e à convivência com escritores. Nadou no Minas Tênis Clube e ganhou alguns torneios, como o contemporâneo Sabino.
Mas a vida deste quase escritor deu uma guinada. No segundo ano de Medicina, na UFMG, entrou para o CPOR, interrompendo a Faculdade. Para continuar, teve que mudar-se para o Rio de Janeiro, onde passou o resto de sua vida, assim como todos da sua geração – Pedro Nava, Carlos Drummond de Andrade, Wilson Figueiredo, Sábato Magaldi e os “quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse”: Fernando, Paulo, Hélio e Otto.
O Rio de Janeiro era o caminho natural. Otto brincava que mineiro não perguntava se ia mudar-se para o Rio – perguntava quando. Pois este quase escritor completou o curso de Medicina, rodou o mundo, tornou-se uma celebridade planetária em sua especialidade, a cirurgia plástica, e passou a vida clinicando para pobres e ricos. Em 1990, entrou para a Academia Brasileira de Letras.
Ivo Hélcio Jardim de Campos Pitanguy morreu com 90 anos. Deixou um excelente livro autobiográfico, “Viver Vale a Pena”. Um exemplo, uma referência, um orgulho de Minas e do Brasil Afinal, um País que teve um Ivo Pitanguy não precisa se ressentir por não conquistado um Nobel de Medicina.
Ou quem sabe, por linhas tortas e se a poesia da vida fosse outra, um Nobel de Literatura? Hora de parar e comemorar o centenário de Ivo Pitanguy. Ainda está em tempo.