Márcia Maria Cruz, Luana Tolentino e Luis Giffoni: Literatura, memória e a construção da subjetividade

22 de junho de 2024

Por Gabriel Pinheiro

O sábado de 12º Fliaraxá recebeu as escritoras Márcia Maria Cruz e Luana Tolentino e o escritor Luis Giffoni para uma conversa que mergulhou no território da memória e o quanto ela é parte fundamental da literatura que produzem.

Na abertura da mesa, Luana Tolentino destacou que a memória levou os três escritores em cena para o lugar onde estão hoje. “Eu só escrevo sobre o meu quintal… e o meu quintal é o mundo”, declarou Luis Giffoni, que emendou falando sobre seu novo novo livro, uma narrativa que se volta para o Brasil, um quintal afetivo. “Neste livro trago uma memória do presente, uma memória em criação”. Ele comentou a importância que um trabalho escrito hoje pode ter no futuro, onde poderemos observar e entender qual e como era o nosso país em um tempo passado.

Tolentino também destacou a importância da memória nas narrativas de mulheres negras. Ela, inclusive, citou Conceição Evaristo, uma das convidadas especiais dessa edição, conhecida por uma narrativa fortemente calcada na memória. “Quero reforçar a importância de um evento como esse. Um evento, no interior de Minas… quantos sonhos de ser escritor, de ser escritora podem se pavimentar neste espaço?”. Márcia Maria Cruz destacou uma das motivações de ter trilhado o caminho das letras: uma forma de honrar a sua avó, pela dedicação aos estudos que ela sempre teve com relação à neta. “A literatura foi fundamental pra mim. Ela me deu armas, me deu palavras para entender meu lugar no mundo. Foi na escrita que eu entendi que poderia fazer diferença nesse mundo”.

“As pessoas, às vezes, nos perguntam: Porque vocês escrevem?” comentou Luis Giffoni. Para ele, o interesse na escrita surgiu a partir da leitura. O caminho de leitor o levou até a trilha de escritor. Ele destacou, ainda, como a literatura preserva tudo aquilo que estamos vivendo em nosso tempo. ”Toda a minha literatura é essa busca por interpretar o meu tempo. Os romances, muitas vezes, dizem muito mais de um tempo do que um tratado de história.”

“O racismo nos faz criar estratégias para sobreviver”, declarou Luana Tolentino. Ela, então, rememorou o período da infância, a época escolar. “Querer ser uma garota inteligente foi uma das minhas estratégias”. Luana destacou que se afirmar como escritora ressignificou o seu lugar no mundo. “Eu desejo que, por meio da minha escrita, eu possa sensibilizar as pessoas com relação ao racismo”.

Pensando também na própria trajetória, Márcia Maria Cruz declarou o quanto a escrita pode ser um lugar de cura. “Ela passou a fazer parte da minha forma de me expressar, da minha maneira de lidar com o mundo”. Para ela, a escrita é o lugar da alteridade, um espaço para lidar com a diferença. “A literatura muitas vezes nos atravessa até de uma forma que a gente não quer, não espera. Muitos livros são como profecias de algo que virá”. Concluindo de maneira contundente: “A escrita é como o ar que eu respiro”.

Ao final da conversa, Luana reafirmou a importância de pensar nos territórios periféricos no lugar de potência, no lugar do sonho. A partir de sua experiência enquanto professora, ela finalizou sua fala citando um antigo aluno: “Eu aprendi que a pobreza não pode tirar da gente o direito de sonhar”.

Sobre o Fliaraxá

A CBMM apresenta, há 12 anos, o Festival Literário Internacional de Araxá, um festival literário com atividades acessíveis, inclusivas, antirracistas, éticas, educativas e em equilíbrio com a diversidade, economia criativa, raça, gênero e pessoas com deficiência. Toda a programação é gratuita, garantindo a democratização do acesso. O Fliaraxá conta, também, com o patrocínio do Itaú, da Cemig e do Bem Brasil, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Participam, na qualidade de apoio cultural, a Prefeitura de Araxá, a Fundação Cultural Calmon Barreto, a TV Integração, a Embaixada Francesa no Brasil, o Institut Français e a Academia Araxaense de Letras. Todas as atividades do Festival são gratuitas, com a curadoria nacional de Afonso Borges, Tom Farias, Sérgio Abranches e curadoria local de Rafael Nolli, Luiz Humberto França e Carlos Vinícius Santos da Silva.

Serviço

12.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá
De 19 a 23 de junho de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Programação presencial na Fundação Cultural Calmon Barreto (Praça Artur Bernardes, 10 – Centro), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliaraxa
Entrada gratuita
Informações para a imprensa: imprensa@fliaraxa.com.br
Jozane Faleiro  – 31 99204-6367/ Letícia Finamore – 31 98252-2002

 

 

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