21 de fevereiro de 2025
O Projeto Portinari, criado por João Candido Portinari, há 46 anos, para dar vida ao que deixou de existir materialmente, o corpo de seu pai, o pintor Candido Portinari, está ameaçado de fechar.
A morte, quando chega, encerra mistérios que a arte e vida não dão conta. Às vezes a obra morre junto, outras vezes só é esquecida, outras não: outras vezes acontece a potência de uma pessoa como João Candido Portinari, que decidiu entregar sua vida à preservação da memória da obra deste inacreditável artista, Portinari.
A força de sua obra foi mantida, redescoberta dia a dia, transportada ao plano de representação nacional. O painel “Guerra e Paz” está localizado na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, Estados Unidos. Ele simboliza muito: foi um presente do governo brasileiro à ONU, em 1956, e tem 14 metros de altura por 10 de largura.
É o único artista brasileiro, talvez latino-americano, com toda a sua obra catalogada, registrada, visível a todos por intermédio do site portinari.org.br. Portinari pintou o Brasil e os brasileiros. Portinari, como poucos artistas, se debruçou sobre a alma do Brasil.
E agora, depois de tanto, nosso João Candido, aos 86 anos, com sua incansável Maria Edina, está às portas do fechamento do projeto por absoluta falta de patrocínio.
E em tempos onde a Lei Rouanet bateu todos os recordes de captação na sua história. Em tempos de Democracia plena. Em tempos onde a Cultura renasceu vigorosa, depois dos quatro anos malditos.
Pode-se dizer que o Projeto Portinari não conseguiu captar os recursos por alguma incompetência técnica? Não. Somam-se as promessas e falas de apoio – inclusive, e principalmente, governamentais.
Falta, talvez, o compromisso da preocupação com a memória. A dificuldade das empresas em lidar com projetos permanentes. Os ruídos que as leis de incentivo causam à sustentabilidade de ações de preservação do patrimônio imaterial. Falta sensibilidade. Falta inteligência.
E sobra a obra eterna de Portinari.
O Projeto Portinari não pode parar. Nunca.