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Teatro é um ato político

21 de julho de 2020

Texto: Marina Vidal – estagiária sob supervisão

O Sempre Um Papo recebeu o ator Thiago Lacerda e o escritor Antonio Prata para falarem sobre “A vida como ela é/ será”. Esta foi mais uma edição do projeto que está acontecendo de forma virtual, devido à pandemia do Covid-19. A conversa foi mediada pelo jornalista Afonso Borges, no dia 21 de julho de 2020, sendo transmitida pelo Youtube, Facebook e Instagram do Sempre Um Papo.

Para os convidados, a vida como ela é agora é repleta de racismo e preconceitos. Antônio Prata apontou que muitas pessoas demoraram para reconhecer o racismo. “A pandemia revela todas as frestas que estavam rachadas no mundo. O mundo, agora, de repente, acordou para o racismo. Eu mesmo, como branco brasileiro, de repente eu descobri o racismo”.

Apesar de ter escrito um artigo para a Folha de S.Paulo sobre o racismo no Brasil, Antônio Prata ficou envergonhado por só ter se atentado para a questão racial agora. “Ao mesmo tempo, é uma vergonha aquele texto, porque é um texto de um branco de 42 anos falando: olha, descobri que os negros estão alijados da civilização do Brasil. Como é que eu levei 42 anos para cair na real? Como é que o Brasil ainda não caiu na real?”, declarou.

Thiago Lacerda acredita que o preconceito está naturalizado em nosso pensamento e que ao invés de negar, devemos assumir que somos preconceituosos e tomar medidas para reivindicar mudanças. “Somos preconceituosos como formação, somos agentes e vítimas da nossa própria história. A história do Brasil foi construída em cima da exploração, do preconceito, da segregação de classes”, lembrou.

Para o ator, uma das formas de combater as injustiças e reivindicar os direitos é por meio do teatro. “A potência do teatro é de provocação e sempre é um ato político, abrir o pano é um ato político”, reiterou Thiago. Ele tem como base o teatro de William Shakespeare que aborda sobre a natureza humana. “O que faz com que a obra do Shakespeare seja um clássico é ela tratar de quem nós somos, através dela é possível a gente enxergar o nosso próprio tempo, a medida da nossa trajetória. As histórias do Shakespeare provocam essa reflexão a respeito de quem nós somos. Essa potência de provocação humana do teatro é que não devemos abrir mão”. Ele lembrou de um trecho da obra Hamlet. “O próprio Hamlet diz para os outros personagens: cuide bem dos atores, porque eles são a crônica e o retrato do nosso tempo”.

Antônio Prata partilha da visão de Thiago e acredita que pessoas influentes na sociedade precisam utilizar sua posição para expor as desigualdades e lutar pelo cumprimento dos direitos, “Pessoas com eu, como o Thiago, como o Afonso, temos voz, nós temos canais para falar com muita gente, nós temos um megafone. E deveríamos usar isso”.

Inspirando em Caminha, Thiago Lacerda, disse que precisamos nos mobilizar. “A ideia do Caminha é que diante do absurdo a gente precisa se indignar, a gente precisa se revoltar. Existem coisas que a gente não pode admitir, como o autoritarismo, a violência, a destruição das conquistas humanas e sociais, a gente precisa defender, combater isso com bastante indignação”. O ator tem esperança de conseguir mudanças na realidade por meio da mobilização social.  “Talvez por esse caminho a gente consiga os direitos para levar um pouco do pensamento e resistência do Caminha para mais pessoas aqui no Brasil, porque a gente está precisando. A gente precisa se mobilizar, essa é a realidade”.

Essa conversa na íntegra  pode ser assistida nas redes sociais do projeto, Instagram e Facebook e no canal do Sempre um Papo no Youtube, por meio do link: https://www.youtube.com/watch?v=QPUfdG5SUDM